Saturday, May 20, 2006

Os toca-discos nunca deixaram de ser fabricados no mundo.


Nota: Leitores, fui plagiado em livro e que esta será a razão da minha retirada do mundo virtual. No entanto, algumas atualizações necessárias as farei com data e firma reconhecida e serão postadas como foto. E todos meus trabalhos serão publicados em cartório de títulos e documentos. (Em 19/03/2014).

Os toca-discos, ao contrário do que muitos pensam no Brasil, nunca deixaram de ser fabricados no exterior, onde o consumidor opta pela cultura da alta fidelidade de som, inclusive chegando ao patamar denominado HI-END e à classificação de audiófilo, comumente conhecido na língua inglesa pela palavra "audiophile". É muito comum serem vendidos LP's com o anúncio "180 gram audiophile", "200 gram audiophile", sabidamente LP's da mais alta qualidade, com sulcos mais profundos.


Vinis e Toca-discos: Um mundo desconhecido do Brasil. ‘Tocadisquismo’: uma mania que cresce lá fora.


É muito comum pessoas ficarem com um ar de perplexidade quando alguém fala que importou um vinil... Ou que tem determinado cantor em vinil, e não em CD... Ou que prefere escutar vinis a CD’s. A pergunta que vem é quase sempre a seguinte: mas “isso” não deixou de fabricar? Pois é. Percebe-se como a mídia comercial é importante, senão determinante no que diz respeito ao acesso à informação sobre bens de consumo, ao que devemos crer ou não, e até sobre a noção de custo-benefício desses mesmos bens.
Os vinis e toca-discos no Brasil tiveram sua morte decretada pelo advento do CD na década de 80, e consumada na década de 90 quando do surgimento do real, que reduziu drasticamente o preço dos novatos CD’s. A mídia comercial pregou a total obsolência do LP e do toca discos diante da nova tecnologia. Não se falava mais em LP; quem desconhecesse as vantagens do CD diante do LP estava fora de moda. Fato consumado.
Porém, nos países de primeiro mundo, Estados Unidos, Europa e Japão, isso não aconteceu. Com classes sociais bem informadas, acostumadas a equipamentos sofisticados de áudio, incluídos aí os toca discos, com tecnologias e práticas de prensagem de alta qualidade, inexistentes no Brasil, como LP’S de 160, 180 e 200 gramas (quando o normal por aqui eram LP’s de sulcos rasos - 125 gramas), essa sociedade não se vergou à tecnologia novata do CD: apenas a incluiu, como mais uma opção.
As prensas brasileiras foram vendidas para o Chile, Argentina e Espanha. A Febre do CD se espalhava, assim como o desejo de consumo de um toca CD. No exterior, as coisas iam a passos mais prudentes: Decobriu-se que o CD precisava se aperfeiçoar, que o som ainda não estava bom, embora não se negasse a sua praticidade, principalmente no seu uso em carros. E continuou-se a usar os vinis e os toca-discos. E está assim até hoje: o CD foi um aliado, e não um invasor, que expulsou um inimigo.
E é impressionante como no Brasil se acredita até hoje que vinil é peça de museu, assunto de saudosista ou gente bizzarra... Diga-se o mesmo para toca-discos.

A situação hoje, nos Estados Unidos, Europa e Japão é a seguinte: O CD dividiu o mercado com o LP e com a fita cassette, cada um ocupando o seu lugar em vantagens técnicas, práticas e culturais. As bandas lá fora lançam seus álbuns, na sua maioria, em CD e LP e algumas em fita Cassette. Toca discos e tape decks nunca deixaram de ser fabricados; muito pelo contrário: evoluíram e continuam evoluindo. O consumidor estrangeiro conhece bem as diferenças entre o analógico e o digital, sabe que o primeiro é sinônimo de fidelidade e o segundo, de pureza de som. Há os que entendem que e qualidade sonora só existe onde há fidelidade; e outros, que qualidade sonora é sinônimo de pureza de som. E tome briga! Ainda há uma terceira corrente que entende que a arte é intocável, intangível, e que dessa forma o sinal sonoro não poderia ser transformado jamais em informações digitais porque isso macularia fatalmente a sua essência (em face do processo digital binário de 0 e 1 ser incapaz de reconstruir na outra ponta sinal idêntico, mas apenas aproximado, vez que 0 e 1 não interpreta valores muito pequenos de volts).
Com correntes ou sem correntes de opinião, as fábricas de toca discos estão a todo vapor: Evoluíram muito.(Ver links abaixo). E ainda existe o mercado saudosista abocanhado pela TEAC, que fabrica móveis da década de 1940 que tinham incorporado em seu bojo vitrola e rádio, naturalmente hoje, incluido o toca CD. Surgiram também os fabricantes de toca-discos denominados “obra da arte” (Work Of Art Turntables) e os toca-discos homemade, feitos em casa por verdadeiros apaixonados por toca-disco de som refinado, em sua maioria técnicos e engenheiros. Conseguem relações de sinal ruído de até 80 dB. Também se inventou para o toca-discos um novo conceito, o de INSTRUMENTO! A Vestax alemã, que além de fabricar verdadeiras obras de tecnologia, como um toca-discos que toca inclinado, criou o já famoso “Controller One”, uma espécie de toca-discos que é um instrumento, vez que acrescenta notas musicais à faixa do vinil e outras coisas mais. Opera te por pedal.
Existe também o mercado dos saudosistas em aparelhos de som, especialmente toca-discos! A TEAC fabrica modelos idênticos aos de 1940, com tecnologia embarcada do século 21, com drive de CD...
As cápsulas evoluíram tremendamente e se tornaram caríssimas. Nomes como magneto móvel e bobina móvel eram pouco pronunciados em terras tupiniquins na época do LP brasileiro pela massa consumista. Hoje já se tem a 3ª categoria, a moving iron. Uma boa cápsula MM (magneto móvel) para começo de conversa custa mais que um DVD popular (R$300,00). E a partir daí os preços só crescem, ultrapassando a casa dos dois mil reais. Já quando a conversa é MC – Moving Coil (bobina móvel), a coisa é mais embaixo... caríssimas, são para poucos, devido aos seus conceitos de qualidade de construção. A mais famosa é a conhecida Van Den Hul Colibri, mas existem outras como a Clearaudio Insider Gold Cartridge (US$10.000), Koetsu Onyx Platinum Cartridge (US$ 7.500,00) Lyra Titan Cartridge (US$4,500.00), Benz Micro Ruby 3 Cartridge (US$3.000,00), Dynavector e outras nessa faixa de preço. Coisa para experts que tem bolso. Mas há também excelentes cápsulas a preços mais acessíveis, como a Grado Black (US$40,00), Audio-Technica 70L Cartridge (U$40,00), Stanton 400 V3 Cartridge (US$19,99) e outras nessa faixa de preço. As agulhas também evoluíram, além das elípticas e cônicas, surgiu a Microline, da Áudio-Technica (Audio-Technica AT440MLa MicroLine™ stylus) que é uma agulha com a lapidação de seu perfil em forma de curva, para aproveitar mais a área de contato com o suco do disco. Segundo o fabricante, a “pegada” dessa agulha é semelhante à agulha de corte da matriz do LP, o que confere o máximo de fidelidade e beleza de som. Com cápsula e tudo, está na faixa dos US$219,00. É, não existe áudio bom e baratinho. Transdução custa caro, ao contrário de processamento de dados. O design nos toca-discos também evoluiu: A Ortophon criou a famosa concorde, uma cápsula em formato de nariz do avião concorde.
Os toca-discos vendidos atualmente no mundo (leia-se Europa, Estados Unidos, Japão e outros) dividem-se em quatro grupos: os profissionais, os domésticos, os estilo nostalgia e os denominados “toca-discos obra de arte”, os “Work of Art Turntables. É o que já se convencionou chamar lá fora de “Turntablism”, ou, aportuguesando, “Tocadisquismo”. Além de um bem elaborado documento postado na internet sobre o assunto, em PDF, existem vários sites sobre o assunto: No gigante site de busca Google, vários podem ser acessados, bastando colocar a palavra "turntablism" no buscador. Seguem alguns: http://en.wikipedia.org/wiki/Turntablism http://www.bbc.co.uk/music/features/vinyl/turntable.shtml http://www.djbattles.com/http://www.hiphop-directory.com/Deejaying/Turntablism/index.phphttp://www.hiphop-directory.com/Deejaying/Turntablism/index.php http://www.turntablism972.com/http://www.styluswars.com/

Voltando ao assunto, ainda poderíamos citar uma nova categoria de toca-discos, como uma 5ª, que na realidade é uma vertente dos toca-discos profissionais: a dos híbridos. A Numark saiu na frente e com seus CDX e “X²”. Uma possível sexta categoria seria a do recém lançado Numark TTUSB, que pode ser conectado diretamente a um computador, na porta USB, para a conversão de LP’s em CD’s.
Os toca-discos profissionais podem ser encontrados nos seguintes sites: www.numark.com/ , www.stantonmagnetics.com/v2/index.asp , www.panasonic.com/consumer_electronics/technics_dj/flash.asp
www.vestax.com/ , www.geminidj.com/home.html , http://www.rega.co.uk/ , http://www.roksan.co.uk/ (Record Players - Toca-discos que gravam em vinil virgem)
e http://www.adjaudio.com/category.asp?category=Turntables. São respectivamente das marcas NUMARK, STANTON, TECHNICS, VESTAX (Inventora do toca-disco instrumento, o Controller One), GEMINI, REGA, ROKSAN e outros mais. Os domésticos possuem uma lista quase interminável, pois nos Estados Unidos se fabricam muito, mas muito toca-discos! O mercado é largo. Outros países, do citado bloco, também os fabricam. Para visualizar essa categoria, vá ao site americano da loja virtual NEEDLEDOCTOR – http://www.needledoctor.com/ e confira, na categoria “Budget Turntables (Toca-discos baratos) uma extensa lista. Há os caros também, em grande quantidade. Na categoria NOSTALGIA, quem reina absoluta é a TEAC, com seus modelos belíssimos imitando as décadas de 40, 50 e 60, ainda no mesmo site acima. E por fim na categoria “toca-discos obra de arte” (Work of Art Turntables), alem do site da needledoctor, com os famosos da CLEARAUDIO, confira os do site http://www.enjoythemusic.com/magazine/equipment/0302/basis2800.htm e os do site, especializado em audiofilia, o http://www.elusivedisc.com/prodinfo.asp?number=BASWOAV, que traz um toca-discos com suspensão a vácuo e que custa a bagatela de US$69.999,99. Isso, quase 70 mil dólares, o preço de um bom apartamento de dois quartos e sala.
E quanto aos vinis? Onde são vendidos? No Brasil certamente não, a não ser as edições limitadas prensadas pela PolysomBrasil, encomendadas por bandas de Funk, Hip Hop e outros gêneros. Mas no exterior, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, Lp’s podem ser encomendados pela internet SEM IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO (pasme!), desde que escolhida a opção “encomenda simples” (domestic US mail) pela LPNOW (http://www.lpnow.com/ ), VINYL.COM (http://www.vinyl.com/), SIMPLYVINYL (http://www.simplyvinyl.com/), pela ELUSIVEDISC (http://www.elusivedisc.com/ ), no bonito site da SPEAKERS CORNER RECORDS (www.speakerscorner.de/ ) e no gigante JUNORECORDS (http://www.juno.co.uk/ ), que também vende outras mídias, como o CDL (compact disk laser) e pasme novamente, fitas cassette! É que nesses países não vigora a mentalidade da substituição tecnológica, mas a do acréscimo de outras tecnologias, como as do disco laser compacto (CD) e a do iPod. Por isso, lá, quem defende a praticidade como o principal objetivo de um aparelho de áudio, fica com a música processada ou informatizada, denominada digital. Quem prioriza o ouvido, fica com o vinil e as demais mídias analógicas, como as fitas magnéticas e os tape de gravadores de rolo. Quem coloca cada um no seu devido lugar, desfruta daquilo que cada um pode proporcionar. Mas também existem as posições politizadas sobre o assunto, que defendem a intangibilidade da arte, que o processo digital macula.
Os tape-decks também não deixaram de ser fabricados. A fita magnética é uma mídia analógica tão ou até mais perfeita que os registros do vinil. Decks caros e famosos pela qualidade como os Nakamichi e os Taskan estão aí para provar, assim como outros. E os gravadores de rolo? Estes são os “Top” do som analógico, uma vez que o master-tape (a mídia que origina a matriz de prensagem de vinis no processo de sua fabricação) é registrado num carretel de fita magnética denominado “Tape”, com uma maravilhosa faixa dinâmica resultado de suas várias pistas de gravação (qualidade de som). Com a palavra os produtores de estúdio da época do LP, que não se deixaram corromper pelo baixo custo (e duvidosa qualidade) do som extraído através de processamento digital. E ainda, com a palavra George Lucas, do seriado “Guerra nas Estrelas”, que não grava em processo digital, defendendo uma atitude anti-pasteurizadora da arte.
A paixão pelos toca-discos de vinil criou faixas sociais antes inexistentes na época áurea do LP: Hoje temos além da profissão, a “carreira” de DJ (disc-jóquei), vez que são aceitos pela sociedade como artistas (que na realidade, sempre foram, pois criam). E um fenômeno social, o “turntablism” ou “tocadisquismo”, como é chamado esse hobby composto de aficcionados por toca-discos e a exploração máxima que o som analógico transduzido pode proporcionar. Transdução é a técnica de analogizar um som real, replicá-lo na íntegra, ou, de um ponto de vista mais da física, transformar a energia mecânica das ondas sonoras em registros inertes, que por sua vez poderão restaurar o som neles gravado quantas vezes se quiser. E o barato dos amantes do som analógico do vinil é justamente esse: ouvir o som que a banda tocou, sem as perdas naturais que a codificação informatizada causa no seu processo de digitalização, uma vez que a quantificação binária limitada a 0 e 1 não consegue reproduzir a cadeia de microvoltagens que compõe a complexa e imensa onda senoidal elétrica (ou senóide analógica ou onda de áudio), que é o sinal que sai dos microfones num estúdio de gravação, antes de ser registrada em uma mídia, seja ela analógica ou digital.
Assim, é impressionante registrar como o Brasil como um todo está à deriva dessa realidade, pujante e vigorosamente econômica, lá fora. O mercado só tem crescido. A venda de LP’s, já que as bandas na sua maioria produzem nas mídias LP e CDL (e algumas também em cassette) só cresce. Um mercado muito interessante é o dos LP’s ressuscitados novos, lacrados, de prensagem atual. São conhecidos como Sealed New Reissue Vinyl (vinis novos ressuscitados e lacrados). Uma idéia genial: Quem é que não gostaria de ter nas suas mãos novamente aquele LP da sua adolescência que o tempo levou, porque na época você não lhe dava o devido valor? Ou que danificou-se, e como LP fora de catálogo, você não mais pode adquirir? Ou que foi furtado, naquela festa? Pois é, um mercado muito interessante. LP’s como “The Dark Side of The Moon”, do Pink Floyd ou “Wings Wild Life”, o 1º da banda de Paul MC Cartney na cena pós-Beatles, já podem ser encontrados.
Pois é, o vinil não morreu, nem o toca-discos, como pensam os brazucas, na maioria. Nem o som analógico. O que parece ter morrido foram os anos que o brasileiro ficou privado da beleza de seu som, por causa de barreiras comerciais burras que nunca entenderam que música e os instrumentos que as tocam, são cultura (!) e uma indústria fonográfica que só pensou no lucro dos baixos custos de produção do CD-A e que agora pula de dor pelo tiro no pé que deu, em face da pirataria que ora reina e ameaça seu reinado. Um país que barra a cultura, nunca será um país moderno e livre.

Joaquim Martins Cutrim
joaquim777@gmail.com
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